quarta-feira, 29 de abril de 2009

Estrangeiros e Viajantes, o que nos protegeria? Blogagem Coletiva

Um desamparo primordial – “O Céu que nos Protege” foi o filme que repercutiu mais fundo as minhas emoções.
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Como a minha pele experimenta o universo cinematográfico? Que leitura emocional a psique faz desta Arte? Qual filme teria impactado em minha pele, as questões mais profundas?
Sobre as experiências que o cinema e, no conjunto – roteiro, trilha, fotografia, fazem ecoar nas camadas mais fundas do coração humano, cada pele poderá fazer uma interpretação particular.
O que levanto neste momento é a possibilidade de que a partir da história de um sujeito, uma Obra cinematográfica que condense em sua trama, um conteúdo fundamental, poderia repercutir de forma profunda e capturar as emoções primordiais em uma determinada psique. Seria por esta razão que cada pele guarda uma impressão particular e única sobre um determinado filme? Eu poderia falar que senti algo assim em “O Céu que nos Protege de Bernardo Bertolucci.
E eu explico. A beleza da fotografia, a trilha sonora e o belo elenco, por certo contribuíram para o estado de suspensão em que me vi.
Mas não foram estes os fatores mais relevantes desta experiência.
O que senti ao ver este filme, foi uma conexão profunda, com a experiência mais forte do humano – O desamparo primordial.
Este sentimento nos conecta com o vazio e, no processo de humanização, nos leva a desejar companhia e exigir a presença ativa de um outro que nos complete e ampare.
Este filme ensejou uma importante reflexão acerca do que fazemos ao longo da vida e o que somos enquanto existimos cotidianamente.
Como poderíamos pensar o ir sendo de nossas peles, se há um desamparo que, supostamente eu não conseguirei preencher?
A esperança de que exista uma possibilidade de felicidade, a partir de uma vida com um outro, poderá se configurar como inútil.
Ou seja, o futuro seria incerto porque poderia resultar na constatação de que o acaso, sempre nos conduzirá de volta ao desamparo primordial.
Este filme levou-me a constatar que sou uma estrangeira de mim e em mim mesma.
Além disto constatei o sentimento de estrangeireidade que me habita.
Não somos turistas na vida. Vivendo, somos viajantes.
Humanos, estamos expostos ao acaso.
Turistas vão e voltam mas VIAJANTES, podemos ir e não voltarmos das experiências às quais nossas peles se exponham.
Neste filme com mais de duas horas e meia de duração, um casal, após dez anos juntos, partem em uma viagem pelo deserto.
Na experiência da morte, o desamparo, o sentimento de estrangeireidade e a certeza de que somos viajantes na vida.

Neste filme de Bernardo Bertolucci, Debra Winger vive Kit e John Malkovich, vive Port. A trama evidencia o impasse da morte e a questão do desamparo que nos conduz à busca do outro.

13 comentários:

Mírian Mondon disse...

Muito bem lembrado e otima escolha, parabens! Essa blogagem esta sendo para mim uma viagem por filmes que amo e que amei, e esse é um deles!

Abraços

Dora disse...

Mai. Esse poderia ser o filme preferido de muitas pessoas que refletem, seriamente, sobre esses temas da precariedade humana, o desamparo( a solidão: somos sós...com nossa identidade), a "estrangeireidade" que nos habita, a incomunicabilidade do ser, a sensação de finitude, enfim, que nos espia sempre...
E o filme tem bons atores, belas imagens e a firme direção de Bertolucci.
Sua pele, sem dúvida, tem sensibilidade aguçada e seu corpo todo alcança o senso estético e vital da Arte!
Gosto de ler você!
Beijos.
Dora

Compondo o olhar ... disse...

não assisti a este filme... pena né??, mas anotei, ou melhor estou anotando varios para depois assistir. estou amando esta blogagem... parabéns!!!

bjocas

pa: tbm estou participando, veja a minha postagem.

Dulce Miller disse...

Ótima escolha!
Estou adorando esta blogagem!

Beijos!

Vanessa Anacleto disse...

Bela escolha, a fotografia é mesmo maravilhosa!

Obrigada por participar da coletiva.

Abraço

Paula Barros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paula Barros disse...

Oi, querida

Esse não foi o número 1 do Mandoki? Quando li o comentário dele fiquei com vontade de assistir, e lendo o seu relato aumentou a vontade.

abraços

Unknown disse...

belo post!Gostei muito do blog.essas coletivas são legais tbem para encontrarmos blogs como o seu.Parabéns e um abraço.

Susana Falhas disse...

Muito profunda a reflexão sobre a escolha do teu filme! Gostei bastante da parte em que dizes que não somos turistas , mas viajantes,num caminho, por vezes sem volta. Dá que pensar...
Não conheço o filme, mas deu-me vontade de o conhecer.
Abraço, Susana

Gisele Amaral disse...

Fantástico esse filme! Fantástico, magnífico. Escolha muito conciente. E boa!

Beijos.
=*

Cleo disse...

Sendo de Bernardo Bertolucci o filme já impregna por si só nossa pele, ele sabe conduzir a trama até que nos impregne na pele, alma, sentidos. Muito bom, adorei teu blog.
Beijos com carinho e feliz domingo.
Cleo

Devir disse...

Tema eterno
tão diferente dos "vindouros"

Estou mergulhando em voce, Mai
hoje resolvi flertar com a morte
ha muito tempo que não
experienciava o desamparo

O outro, rss, o inferno dos medrosos
que descem "bem devagarinho"
ou "caem"

Esta semana experimentei essas coisas
em sua forma mais contundente
resisti ao inferno na boa
minha pele não pega tatuagem
muito menos tutuagem

De tudo que escrevi até aqui
neste ponto, hum, já profundo
faltou propositalmente dizer sobre
"Auto preservação"

Não sei se isto é simulacro
ou autêntico
mas é um conceito instigante
depedendo da circunstância

Não enxergo diferenças
tão somente para fazer comparações
de pesos e medidas
por exemplo entre estar tomando uma cerveja
ou voando de avião

É tão sutil a fronteira
entre o real e a ficção
que morrer deixou de ser mistério

Espero por sua pele em meu blog, Mai

Myrela disse...

Adoro Bertolucci e adorei esse filme! Um dos mais expressivos que já vi.
Enfim, encontrei mais gentes que gostaram dele... até agora só tinha encontrado mais uma.
Um abraço!